Blog Viagens pelo Brasil: Rota do Cangaço

sábado, 15 de abril de 2017

Rota do Cangaço

Uma viagem ao sertão nordestino para conhecer a caatinga, provar a fruta do cacto e conhecer o lugar onde Lampião e seu bando foram atocaiados e mortos

Mais que sonho realizado. Superação! Acordei e o céu estava nublado, justo no dia em que planejamos a trilha em que Lampião se escondeu, mas acabou sendo atocaiado e foi morto. Estava triste por não poder fazer o outro passeio mais esperado no Sergipe. Por causa da cirurgia, tinha que evitar esforços e haja esforço na trilha em pleno sertão nordestino, com rio seco e sem árvore, vegetação da caatinga. Entretanto, o céu nublado me animou e mesmo as cangaceiras, que são as guias na trilha, não recomendando, assumi o risco. Peguei sombra muitas vezes, mas a volta ao meio dia foi com sol, friso, do sertão, a pino. Rezei e fui! Deu tudo certo. Só faltando uns 200 m para terminar senti calafrios, mas já estávamos chegando.

E aproveitei para, praticamente tomar banho na pia do lavabo, beber um litro dágua de uma vez e colocar os pés para cima em uma cadeira. Fiquei exausta, quase passei mal, mas, graças a Deus deu tudo certo e pude fazer o passeio tão esperado.

Para começar a caminhada, a guia recomenda molharmos o chapéu para aliviar um pouco o sol, mas, vou ser sincera, mesmo com o tempo nublado, só de andar alguns poucos metros, o chapéu já estava seco.

Aqui deveria correr um rio, que está seco

Desde que fechei o pacote para a rota do Cangaço comecei a me preparar. O que chamei de projeto Sertão e não verão (risos). É que sou totalmente sedentária e já haviam me avisado que este circuito é muito pesado por se fazer caminhada em meio ao sol escaldante – 40° sem vento -, portanto, acessórios obrigatórios eram chapéu, tênis, muito filtro solar e água. Eu que já digo que meu único vício é água (quer dizer, acho que viajar também! Risos) já fiquei preocupada em levar bastante para me hidratar sempre.

Nos dois meses que antecede-ram minha viagem, fiz dieta e caminhada todos os dias. A trilha continuou sendo pesada, mas, fiquei com a sensação de ter me preparado para viver um momento único, que ficará para sempre em minha memória. A dedicação foi um trunfo a mais nesta viagem. Mal sabia que faria a cirurgia que quase inviabilizou minha caminhada até a grota dos Angicos, onde houve a emboscada a Lampião. Porém, consegui e a superação somou-se à dedicação e consegui desbravar mais um ponto turístico diferenciado deste imenso e lindo Brasil!

Você segue a trilha por onde o cangaceiro Lampião, o famoso Virgulino Ferreira da Silva, e seu bando passaram e se esconderam. Assim, às margens do Velho Chico, você pode reviver a história do rei do cangaço. Maria Bonita e Corisco são outros personagens bem marcantes dessa história.

Para chegar até a gruta, é necessário andar de catamarã pelo rio São Francisco novamente.

Pegamos a embarcação e, antes de fazer a trilha, paramos no ponto de apoio, que é o Cangaço Eco Parque onde almoçamos na volta também.

Moqueca de camarão

Carne de bode

Os garçons vestem-se de cangaceiros

Esse era o momento mais esperado (por mim) do passeio, apesar de estar consciente da caminhada desumana que faria sob um sol de 40ºC pelo sertão nordestino e mesmo já tendo sido alertada que na trilha a temperatura era dois graus acima da que estaria apontando no dia. Aliás, a trilha é opcional, quem não quiser percorrê-la pode almoçar ou ficar tomando banho de rio. O local tem estrutura tipo prainha.

A infraestrutura do espaço é excelente. A alternativa à trilha é usufruir das redes, passeio de cavalo, escalada, slackline ou mesmo fazer um passeio de barco até Entremontes, para conhecer a cidade do bordado.

A trilha é realizada dentro do Cangaço Eco Parque, na Fazenda Angico, em Poço Redondo, no Sergipe. Fui desbravar o Sertão nordestino. Há ainda o passeio de jegue. Achei muito pitoresco, mas fui determinada a seguir a trilha de Lampião e lá fomos nós à procura da Grota do Angico, onde Lampião, Maria Bonita e outros nove cangaceiros foram surpreendidos por uma emboscada e morreram.

Conta a história que, no dia 28 de julho de 1938, o bando foi encontrado no local por 49 soldados da polícia alagoana, na época conhecida como volante. Eles tiveram as cabeças degoladas sob o comando do tenente João Bezerra da Silva. Os 11 crânios ficaram expostos na escadaria da prefeitura de Piranhas (AL), a 12 km dali e que depois fomos conferir de perto e destacamos o município em um post separado.

São 90 minutos de caminhada até a grota em um sol escaldante em meio à caatinga, acompanhados por uma guia vestida a caráter e interpretando Maria Bonita. A trilha do Angico tem 3,5 km de extensão entre ida e volta, em terreno irregular e pedregoso. Algumas áreas são tão escorregadias, que só se passa com a ajuda. Fácil não é, porém, a emoção de vivenciar e percorrer a trilha de um fato histórico que marcou a vida de muitos nordestinos, vale todo esforço e falta de preparo físico.

Há um rio que corta a trilha, mas, no sertão, ele secou. Na época em que Lampião foi morto, estava chovendo e o rio tinha água. Não estava cheio, pois, a guia disse que quando está cheio, não é possível fazer a trilha.

Seguimos pela mata em nossa empreitada. No caminho, a caatinga se descortina e encontramos mandacarus, cactos e vegetação rasteira. Galhos secos... Encontramos também o cactos em flor e dando fruta. Pudemos até colher a fruta no pé e degustar. Ela é muito bonita, parece pitaia. Toda rosa com sementes pretas. A guia nos disse que é pitaia mesmo. É gostosa!

Até que chegamos à grota do Angico onde há um memorial a ele e Maria Bonita e uma rocha com as marcas das balas da volante que foram atiradas em Lampião e seu bando.

Por toda a trilha, placas te avisam quanto falta para chegar à grota do Angico

Na época de Lampião, a Grota do Angico era de difícil acesso, por isso, escolheu lá para se esconder. E é aqui que paramos para totalmente atentos à nossa guia, escutarmos ela discorrer sobre como foi a morte do cangaceiro e seu grupo.

Depois de mortos, suas cabeças foram cortadas e expostas na escadaria da prefeitura de Piranhas, com registro fotográfico e tudo. No exato local da emboscada, há cruzes com os nomes dos cangaceiros e do único soldado morto no confronto.