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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Pluralidade e riqueza turística em Mariana/MG


A primeira Capital de Minas Gerais reúne qualidades que engrandecem a cidade e agrega patrimônio histórico, religioso, natural, literário e a maior e mais antiga mina de ouro do mundo aberta para visitação

Ao pisar os pés na cidade de Mariana, os sinos anunciavam o início da procissão de Corpus Christi. Senti-me abençoada. Era como se cada badalada dissesse amém aos meus melhores anseios de saúde, paz e amor para mim, meus familiares, amigos e porque não para o mundo. Começar um turismo assim é mesmo emocionante e próspero. Poder, em Minas Gerais, ver de perto os famosos tapetes de serragem típicos de eventos religiosos como este também foi incrível. Como na época em que o bispo chegou à cidade, as sacadas dos sobrados estavam todas enfeitadas com flores, toalhas bordadas, tapetes e colchas.
Pioneiro nas Minas Gerais, o município foi sede da capitania de São Paulo e das Minas do Ouro,
primeira vila e cidade do estado, sediou a primeira Câmara Municipal e constituiu o primeiro bispado da capitania das Minas Gerais. Palco de grandes lutas pela liberdade, Minas Gerais foi alvo de grandes motins. O maior e mais conhecido, a Guerra dos Emboabas. O ouro realmente tomava conta de toda  a região atraindo muitas pessoas. Assim, a Coroa Portuguesa nomeou um governador para o estado e Mariana, à época, foi escolhida para sediar o governo.

Mariana faz parte da Estrada Real e foi a primeira Capital de Minas Gerais. O município tem muita história para contar. A importância da cidade é inco-mensurável. Visitá-la, uma honra, pois, é um verdadeiro marco de cultura, política, história, religiosidade, riqueza...
Politicamente, Minas Gerais tem influência no Brasil e a primeira capital do estado não ficou de fora da participação efetiva em todos os períodos seja na Independência, no Império ou  na República. Em 1945, Mariana recebeu o título de Monumento Nacional do então presidente Getúlio Vargas. E, anualmente, no dia de Minas, comemorado em 16 de julho, o governo do Estado se transfere para a cidade.
No século XVIII, Mariana teve grande repre-sentatividade no ciclo do ouro, produzindo o metal em grande escala para a coroa portuguesa. Tanto que suas construções, igrejas são repletas de obras feitas no metal dourado. E poder visitar uma mina de ouro, ter uma aula de geologia e sobre a extração de metais preciosos foi espetacular. E olha que não é qualquer mina. Ela é simplesmente a maior e mais antiga do mundo aberta para visitação.

É muito interessante conhecer a Mina da Passagem. Os turistas embarcam em um trolley rumo às galerias subterrâneas. Ele pode chegar a 315 m de extensão e 120 m de profundidade. Uma verdadeira aventura, que está muito bem relatada na frase de abertura do site do ponto turístico (http://www.minasdapassagem.com.br/intpor.html): “Visitá-la é como viajar pela história, vivenciando a saga e a sina perigosa dos homens que procuravam pelo ouro no interior das montanhas mineiras”. Há, inclusive, um lago natural!  
Durante a visita, é explicada a origem do ditado: “nem tudo que reluz é ouro” e a expressão “ouro de tolo”. Na verdade, os dois estão ligados à pirita, que é um sulfeto de ferro. Ela é conhecida ouro dos tolos porque seu brilho engana mineradores iniciantes, que a confundem com o metal precioso.
Museus – Tudo em Mariana respira o barroco português, desde a arquitetura até as obras religiosas, esculturas e arte. Todos os prédios de museus e igrejas além da maioria das casas têm essa influência. Muitas personalidades se criaram em Mariana. Além do poeta Alphonsus de Guimaraens, temos Manuel da Costa Ataíde (pintor sacro), Cláudio Manuel da Costa (poeta e inconfidente), Frei Santa Rita Durão (autor do poema Caramuru) e padre Joaquim da Rocha (inconfidente).
Não sei tocar nenhum instrumento musical nem muito menos sei cantar, mas, adoro curtir e apreciar
canções, melodias... e um lugar bem interessante que conheci em Mariana foi o Museu da Música. Ele possui um grande acervo de música sacra manuscrita, com mais de duas mil partituras e desenvolve um excelente trabalho de resgate da memória que proporcionou a revelação de novas peças de compositores reconhecidos como Lobo de Mesquita. Muitas obras, inclusive, para não se perderem, foram restauradas. O museu faz parte do Programa Memória do Mundo da UNESCO.

E, se Minas Gerais tem igrejas maravilhosas, artistas reconhecidos mun-dialmente, impossível ir a Mariana e não conhecer o Museu Arqui-diocesano de Arte Sacra, que tem cerca de duas mil peças. É considerado o mais rico em arte sacra de Minas e o segundo do Brasil. Há um abastado mobiliário, imagens portuguesas, trabalhos em pedra sabão e jacarandá, pinturas de Mestre Atayde, itens em porcelana, ouro e prata, além de ambientes completos do século XVIII. A arquitetura colonial do prédio, tipicamente portuguesa, é de José Pereira Arouca. Comenta-se que a casa funcionou como prisão para padres.

 O Museu Casa de Alphonsus de Guimaraens reúne todo o acervo do poeta doado pela família. São objetos pessoais, mobiliário, contando sua vida. Além de cartas, originais de poemas, fotos, matérias em jornais da época, livros... Um acervo riquíssimo que enche os olhos de encantamento daqueles que apreciam história e literatura. Guimaraens morou neste prédio no período de 1913 até sua morte em 1921.
Formado em Direito, Guimaraens foi promotor de Justiça de Minas Gerais e juiz de Mariana. Atuou como colaborador para alguns jornais de São Paulo, onde estudou. Poeta, representante do Simbolismo brasileiro, mescla em sua obra misticismo, amor e morte. No cemitério do Rosário, é possível visitar o túmulo de Alphonsus de Guimaraens.

Há ainda no centro da cidade, o Atelier e Casa dos Artistas Mestre Ataíde, que conta com exposições, além de ser um excelente espaço para visitas, elaboração de obras pelos artistas plásticos e comercialização das mesmas. Outro lugar para a difusão das artes e cultura é o Centro de Cultura Sesi/Mariana. Nele, há um teatro com capacidade para 300 pessoas. Também são oferecidas aulas de artes plásticas, teatro, dança e cursos de formação em instrumentistas de cordas para orquestra e flauta doce para crianças e adolescentes interessados.

Ruas – Principalmente nas ruas da Direita e Dom Silvério, há pre-dominância de construções tipo sobrado.  A Direita é a segunda rua mais antiga da cidade. Ela reúne construções coloniais, com vários prédios que serviram de residência para pessoas ilustres do estado como o Barão de Pontal, ex-governador de Minas Gerais e de Alphonsus Guimaraens, onde hoje funciona o museu do poeta.  A Casa do Barão de Pontal é maravilhosa. Em seu exterior, há sacadas rendilhadas em pedra-sabão. Raras em Minas e também no Brasil. E foi exatamente por essas ruas que seguimos a procissão do Corpus Christi.
O Barroco brasileiro está bem representado na praça principal de Mariana, a Minas Gerais, nas igrejas e conjunto arquitetônico da cidade. A localização da  praça Minas Gerais em um local mais alto concede às duas igrejas nela situadas (São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo), situação privilegiada. De qualquer ponto do centro histórico, é possível enxergar as torres das igrejas de São Francisco e do Carmo. Ao nos  aproximarmos delas, somos surpreendidos ao vermos como foram construídas perpendicularmente uma à outra.  Em frente à igreja de São Francisco está o Pelourinho, que era usado para castigar infratores. O globo esculpido no alto simboliza as conquistas marítimas portuguesas. Do lado esquerdo, há uma balança, que representa a justiça e, no direito, uma espada simbolizando a condenação. Do outro lado da rua, a Casa de Câmara e Cadeia. Nesta, há móveis antigos e o guia se adianta a explicar que, na época em que eram usados, todas as grandes mesas de banquete tinham gavetas, mas, não pensem que era para guardar talheres ou toalhas e guardanapos, não! As gavetas eram para esconder a comida rapidamente caso chegasse alguma visita bem na hora das refeições. Impossível conter o riso!
O prédio, que também já serviu de casa de fundição de ouro e senzala, hoje é utilizado pela Câmara Municipal de Mariana e está perma-nentemente aberta para visitações. Por si só o prédio é maravilhoso e cheio de detalhes. Como, por exemplo, os corrimãos da escada que são em pedra sabão, possui seis janelas enormes com lindas molduras e parapeito de ferro. Na parte de baixo, onde funcionava a cadeia, há três celas para que presos brancos, negros e mulheres ficassem em cada uma delas.
 

Igrejas, cultura e música ­– A cidade é símbolo do ouro, mas, suas riquezas não se resumem ao metal precioso. Há várias igrejas no município e todas têm um diferencial seja histórico, artístico, arquitetônico que as engrandece ainda mais.  Um dos templos que eu estava louca para conhecer em Mariana era a Catedral Nossa Senhora da Assunção ou da Sé como também é chamada, principalmente, por nela ter uma raridade: o órgão Arp Shnitger. A igreja é extremamente rica em detalhes que a ornamentam lindamente. Mestre Ataíde e Aleijadinho fazem as honras da decoração.
Tombado pelo Patrimônio Histórico, o órgão foi construído na Alemanha no século XVIII e foi também um presente da Coroa Portuguesa ao primeiro bispo de Mariana. Este é o único instrumento feito pela Schnitger que está fora da Europa. Em pleno funcionamento, a organista Elisa Freixo apresenta e toca o instrumento para os turistas. Ele é enorme, grandioso... A musicista explica que ele foi transportado até o Brasil de navio e no lombo de animais. Ele foi dividido em 18 grandes caixas e 10 embrulhos. Todos numerados para que as peças não fossem separadas ou sumissem. Ao chegar ao Brasil, ele foi instalado na igreja da Sé pelo pai de Aleijadinho.
O Arp Shnitger ficou 50 anos parado até que em 1984 voltou a funcionar. A restauração dele começou em 1977 e, depois, em uma segunda fase de restauro, que durou de 2000 a 2002 e, hoje, o instrumento é utilizado regularmente em missas, concertos e apresentações para os turistas.
Os visitantes são convidados a ficarem bem próximos do órgão para ouvirem as explicações. Foi magnífica esta experiência! Superou as expectativas. Mas a arquitetura do prédio também impressiona. A igreja foi construída pelo pai de Aleijadinho, Manoel Francisco Lisboa. E a pia batismal é do próprio Aleijadinho. O batistério conta com uma tela do pintor Athayde. Outra riqueza da igreja é a imagem de Nossa Senhora do Carmo no altar-mor. O manto português é todo bordado a ouro.
 

Como já foi dito, na praça Minas Gerais, estão as igrejas São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo. Como de costume, a igreja do Carmo é grandiosa. Foi aqui que assistimos à missa depois de termos acompanhado a procissão de Corpus Christi. A imprensa local estava presente para cobrir o evento e a cidade fez jus de aparecer na mídia. Estava toda enfeitada com tapetes de serragem, as casas tinham suas janelas adornadas com flores e panos brancos. Representou maravilhosamente muita fé, respeito e a religiosidade do povo mineiro. Foi realmente emocionante participar deste evento.

Os restos mortais de Mestre Ataíde estão na igreja São Francisco de Assis. A sepultura 94 está indicada no chão. O artista nasceu em Mariana e são atribuídas a ele as pinturas da nave e da sacristia. Os púlpitos em pedra sabão são de Aleijadinho, além da fachada.

Atrás da Câmara Municipal, que também fica na praça Minas Gerais, encontramos a capela São Jorge, conhecida como Senhor dos Passos. Uma das mais simples edificações religiosas de Mariana é a igreja Nossa Senhora das Mercês, porém, seu interior traz imagens representando a Sagrada Família talhadas em madeira e enfeitadas com ouro. Esta é considerada a estátua mais valiosa da cidade. Agora, o menos robusto templo da cidade é mesmo a Capela Santo Antônio, que é a primeira igreja do município, a mais antiga, portanto, e onde foi celebrada a primeira missa.
Para se ter uma bela vista de Mariana, basta se dirigir à igreja São Pedro dos Clérigos. As formas do templo são arredondadas, denotando influência italiana. Além dela, apenas outras duas em Minas Gerais possuem esta configuração, mas a construção é inacabada. Mesmo assim, não deixa de ser bonita. O seu interior é bem simples, mas, o altar-mor tem um dos maiores santos-do-pau-oco de Minas Gerais todo trabalhado em cedro.

Esta linda cidade histórica tem mesmo em suas igrejas interessantes pontos turísticos. Cheias e ricas de detalhes arquitetônicos, são verdadeiras maravilhas esculpidas. Na igreja São Francisco de Assis, por exemplo, tem o detalhe da portada, em pedra sabão, que é atribuído a Aleijadinho e a pintura do forro é de Mestre Athayde.

No Santuário de Nossa Senhora do Carmo, a fachada é o que mais chama atenção. Suas torres são cilíndricas e há florões na portada.  Os altares seguem o estilo Rococó. 

E é claro que minha visita a Mariana não podia excluir do roteiro a linda igreja Nossa Senhora do Rosário. O interior dela impressiona de tanta beleza! As pinturas são de Mestre Ataíde. Há também as pequenas capelinhas que representam os passos da Via Sacra como o passo da Cruz às Costas, do Pretório e da Ponte de Areia.  
Já o Seminário São José possui arquitetura maravilhosa com uma pequena capela contendo pinturas do italiano Pietro Gentilli. Visitamos apenas a parte externa, pois limitam a entrada de turistas por se tratar de um local destinado à meditação e estudo, porém, isso não nos impediu de ver uma preciosidade: a escadaria é toda incrustada de topázio imperial bruto. Lindo mesmo! Um luxo.


Por fim, a igreja de Nossa Senhora dos Anjos – Arquiconfraria de São Francisco dos Cordões. Ela tem construção simples. Em Mariana, é a única que possui três planos e uma torre central.


E como falar das igrejas de Mariana sem citar uma luta da população para salvar uma delas? Há vários anos a igreja de Sant’Ana pede socorro e a comunidade luta por sua reconstrução. As esculturas que originalmente a adornaram já viveram uma via sacra. Desmontada nos anos 1970 porque apresentava precário estado de conservação. Por questão de segurança, as peças que a adornavam foram para o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra da cidade a fim de protegê-las. Depois, foram doadas ao dono da Mendes Júnior, que vendeu o prédio para o UNI-BH, que, por sua vez, doou as peças para a UFMG. Finalmente, por exigência do Ministério Público, foram devolvidas para a comunidade, mas, o prédio continua se degradando e há anos a comunidade clama por sua reconstrução, que vem sendo adiada por questões técnicas. Inclusive, uma faixa preta com a sigla internacional de socorro: S.O.S está afixada em sua fachada. A igreja foi edificada em 1712 e, ao lado, um cemitério. O Morro de Santana, onde está localizada, era muito explorado, mas, já no final do século XVIII, o ouro estava esgotado no local e muitas pessoas abandonaram suas casas e lavras e até hoje a luta para a reconstituição da igreja é travada para que se possa efetivamente trazer as peças de volta para a comunidade e para que o patrimônio histórico e religioso seja conservado.
Para encerrar a viagem, alguns chafarizes também enfeitam a cidade com detalhes na construção. Na maioria das cidades mineiras, eles ficam próximos a igrejas, pois, para a construção dos templos, era necessária água e, depois, eles eram mantidos para abastecer a população.  O BLOG VIAGENS PELO BRASIL visitou alguns deles como o São Francisco está ao lado da praça Gomes Freire onde a elite  de Mariana vivia. Nele, está esculpida uma coroa e um brasão. Mais simples é o chafariz São Pedro denotando que era usado pelas pessoas mais comuns.


Visitei e recomendo:
Atelier e Casa dos Artistas Mestre Ataíde
Casa de Câmara e Cadeia
Casa do Barão de Pontal
Centro de Cultura Sesi/Mariana
Chafariz São Francisco
Igreja de Sant’ana
Igreja Nossa Senhora das Mercês
Igreja Nossa Senhora dos Anjos – Arquiconfraria
Igreja Nossa Senhora do Rosário
Igreja São Francisco de Assis
Igreja São Pedro dos Clérigos
Mina da Passagem
Museu Arquidiocesano de Arte Sacra
Museu Casa de Alphonsus de Guimaraens
Museu da Música
Passos da Via Sacra
Pelourinho
Praça Gomes Freire
Rua Direita
Rua Dom Silvério
Santuário Nossa Senhora do Carmo
Seminário São José


Localização:
Mariana está no circuito da Estrada Real e situada na Serra do Espinhaço. Pertence à zona metalúrgica do estado, conhecida como Quadrilátero Ferrífero. A cidade fica a 110 km da capital mineira, Belo Horizonte e a 12 km de Ouro Preto, fazendo limite com este município.

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  *Texto e Fotos: Karina Motta


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  *Texto e Fotos: Karina Motta

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