*Wagner Dias Ferreira
Neste post, o BLOG VIAGENS PELO BRASIL publica artigo do marido da administradora e gestora de conteúdo do blog. Com quem ela faz a maior parte dos passeios aqui publicados. Aliás, já está programado para o ano que vem fazermos o circuito citado neste artigo,que é BH ao Espírito Santo. O VIAGENS PELO BRASIL que tanto ama trens não poderia deixar de divulgar este texto que discute a importância de se contextualizar este meio de transporte e, como ele mesmo diz: "É preciso compreender o povo de Minas e comprometer-se com sua cultura para que o trem aqui não seja só um apito."
Desde que passei a chegar para o
trabalho no escritório que está localizado no tradicional Edifício Arcângelo
Maletta no horário de 7 horas, para aproveitar o momento de sossego, sem
celular, whatsapp, telefone fixo ou clientes presenciais para a elaboração de
peças processuais privativas do advogado, sou saudado todos os dias com o apito
do trem.
Apesar de Belo Horizonte ser uma
metrópole contemporânea com toda agitação comum às grandes regiões
metropolitanas do mundo ainda se encontram pessoas pelas ruas que a consideram
uma “roça grande”. É a única capital do país que tem a partida regular de um
trem de passageiros interestadual às sete da manhã rumo a Vitória/ES. Possui na
praça mais central da cidade uma Cafeteria Tradicional, o Café Nice, onde ao
longo de todo o dia se encontram pessoas conversando temáticas as mais diversas
entre um café e outro. Agora ainda mais com a revitalização do Cine Brasil
Valourec.
Não bastasse tudo isso, o “mineirez”,
liguagem muito própria de pessoas nascidas no estado de Minas Gerais,
reinventou a palavra “trem” . Como quando se pergunta: Você faz esse trem pra
mim? Ou “Tem certeza que vai levar esse trem pra casa? Ou Acha mesmo que
consegue comer esse trem? Assim, o
“trem” fica de forma absoluta incorporado à linguagem do mineiro e portanto da
cultura do estado, não só como meio de transporte mas como um ente
identificador deste povo.
A incorporação desse fator cultural
fez com que Rio Acima na região metropolitana criasse um trem para passeios.
Passa Quatro no interior de Minas também. E ainda o trem que liga Ouro Preto e
Mariana. O SESC Grussaí, Litoral Norte do Estado do Rio de Janeiro, já sabendo
que receberia mineiros aos montes colocou dentro das suas instalações um trem
para o City Tour no próprio SESC Grussaí que é imenso.
É por tudo isso que não há como
compreender o desprezo e a total incompetência dos governantes para implantar o
metrô como meio de transporte integrador da Região Metropolitana da Capital.
Constatar que há pessoas em
Belo Horizonte que nunca se utilizaram do metrô. É porque o
existente não atende bem a cidade, deixando diversos lugares importantes e
populosos fora do alcance do importante meio de transporte.
Para uma cultura tão receptiva ao
transporte sobre trilhos, os governantes do país, do estado e dos municípios da
Região Metropolitana, não somente da Capital, mostram-se extremamente
incompetentes pela incapacidade de fazer do metrô em Belo Horizonte um
fator de transporte relevante e culturalmente imperativo.
Por isso ao ouvir o apito do trem às
sete da manhã todos os dias quando chego para trabalhar no edifício Maletta me
regozijo na cultura onde fui criado, mas me entristeço com os governantes que a
todo momento vejo na TV incapazes de mostrar respeito pela cultura deste povo
deixando de valorizar os elementos que o mineiro tornou relevantes e
imperativos. É preciso compreender o povo de Minas e comprometer-se com sua
cultura para que o trem aqui não seja só um apito.
*Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG
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