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domingo, 31 de outubro de 2021

Arte Urbana na praça Raul Soares

Desde que soube que o Circuito Urbano de Arte - CURA 2021 (6ª edição), em Belo Horizonte, seria na praça Raul Soares, fiquei da janela do meu quarto imaginando quais os prédios seriam contemplados. Quando iniciou os trabalhos, então... Olhei ao redor e dou de cara com as primeiras pinceladas na empena do edifício  Paula Ferreira, que fica à esquerda da minha janela.










O tema era o CURA se banhar nas águas da avenida Amazonas — rio de seres encantados e entidades, de energia que limpa, cura e faz germinar — para desaguar no centro geográfico de BH: Raul Soares, que ganhou carinhosamente o apelido de Raulzona neste projeto.

O ponto de partida para as pinturas foi exatamente o chão da praça, com os grafismos marajoara, a fonte de água com os contornos da Chakana (cruz Inca, povo originário do Peru, país onde é a foz do rio Amazonas), que representa os três mundos — o inferior (dos mortos); o mundo em que vivemos (dos vivos); e o superior (dos espíritos).



E a Raul Soares agrega as pessoas. Conhecido território LGBTQIA+, além de espaço de protestos e manifestações; blocos de carnaval; partidas de futebol; de casais de namorados; de quem vai se exercitar, andar de bicicleta ou skate, população em situação de rua...

Presente, também, a energia da floresta e os rituais com cantos de cura, pinturas, história, saberes e tecnologias dos povos tradicionais.


Acompanhei o passo a passo da pintura da minha janela. Foi um privilégio, que culminou em uma vista ainda mais esplêndida. Fiquei tão feliz, pois, passei o ano de 2020 e 2021 sem visitar museus por causa da pandemia. E a arte veio até a mim!

Empena no Paula Ferreira – O responsável pela pintura no edifício Paula Ferreira foi simplesmente a referência mundial em graffiti 3D, Ed-Mun(MG). São 246,2 m². A obra que representa a caligrafia, essência do graffiti, e que brinca com a ilusão de ótica, como se ela saísse de dentro do prédio. A descrição no site do projeto já explica tudo: “a pintura presta homenagem à comunicação por símbolos e grafismos. As cores lembram o barro, a cerâmica e as pedras; o pigmento vermelho amarronzado remete à pigmentação natural e, ao mesmo tempo, dialoga com a cor da fachada do Paula Ferreira. O movimento dos traços remete ao símbolo do infinito e mostra que a arte e a escrita podem vir de dentro”. E como o BLOG VIAGENS PELO BRASIL ama grafismos!





















































Edifício Levy – A outra empena selecionada foi a do edifício Levy, que fica na avenida Amazonas, 718. Mais uma grata surpresa para mim. Apesar de ficar longe da minha janela e eu não conseguir observá-la por inteiro, foi neste prédio que meu cantor e compositor predileto (Milton Nascimento) morou em BH.

Os responsáveis pela pintura, vieram do Acre: Kassia Rare Karaja Huni Kuin (Kássia Borges), Bane (Cleiber Sales) e Itamar Rios. Eles fazem parte do Coletivo MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin, que reúne pesquisadores-artistas indígenas da etnia Huni Kuin.

Foram pintados animais sagrados da cultura amazônica: jiboia, anta, cotia, javali, capivara e tatu. São 49 m de altura e 490 m².

O coletivo fez sua pintura-ritual na empena do Edifício Levy – a maior já feita pelo Coletivo Mahku. No site do CURA, também a explicação: “estampando a convergência de duas linguagens: a música dos cantos xamânicos Huni Meka (cantos do nixi pae: Ayahuasca) e os desenhos que pesquisam e recriam artisticamente como tradução visual desses cantos. Lá estão animais da amazônia acreana, cada qual com sua força e, em especial, a jiboia, animal que rege elementos da cultura Huni Kuin como os grafismos, as danças e os cantos. O resultado é uma empena-entidade, uma espécie de guia energético em pleno centro da cidade”. 












Edifício JK – E claro que o JK, por meio do Coletivo Viva JK (MG), não ficaria de fora. Ele recebeu a intervenção “Vráaaaa na Raulzona”, projetada na fachada do bloco B do Edifício JK. Foi mais uma grata surpresa, pois, as projeções no JK sempre são do lado em que não se pode ver da minha janela. Dessa vez, como a vista tinha que ser para a praça Raul Soares, mais uma vez, fui privilegiada e acompanhei até os testes da intervenção da minha janela.

“Vráaaaa na Raulzona” é dirigida pelo videoartista Eder Santos e seu sócio, Barão Fonseca, com fotografias de mulheres trans e travestis (parte do acervo pessoal de Anyky Lima e do fotógrafo Lucas Ávila); cenas do videoclipe “Duas Pessoas”, de Aldrin Gandra e dirigido por Barão Fonseca; cenas de uma batalha de vogue gravadas no Matriz, cedidas pelo cineasta Leonardo Barcelos; além de manchetes e trechos de reportagens que localizam um território LGBTQIA+ em disputa na Raulzona, com histórica perseguição do Estado a corpos e sexualidades dissidentes (parte da pesquisa de Luiz Morando, autor do livro “Enverga mas não quebra: Cintura Fina em Belo Horizonte”).











Círculo da Avenida Amazonas – Praça Raul Soares – E quando pensa que acabou, começa a pintura do chão no entorno da praça. Pela primeira vez no Brasil, os artistas Shipibo-Conibo Sadith Silvano e Ronin Koshi, artistas peruanos, realizaram a maior obra deles do mundo. São 2870 m².

Foi realizada uma pintura-ritual na faixa da avenida Amazonas que circula a praça. Trata-se da Anaconda, cobra, considerada mãe das águas e do rio Amazonas. Eles pintaram sem parar. Aliás, pararam porque a chuva caiu. De dia, de noite, de madrugada. E toda hora que lembrava, eu tirava uma foto para registrar desde as marcas no chão até a finalização. E a descoberta de cada cor que seria utilizada. As técnicas utilizadas pelos Shipibo, artistas ancestrais, são rituais passados de geração em geração. Sempre com a junção de conhecimento da biodiversidade, das artes, práticas e plantas com poder de cura. Desenvolveram um sistema de desenhos chamado Kené, declarado Patrimônio Cultural de seu país, cujo traçado segue padrões geométricos, expressando a cosmovisão shipibo e os seus ícaros, as canções entoadas nos rituais. 










































































EQUIPE CURA 2021

 

Direção artística: Janaína Macruz, Juliana Flores e Priscila Amoni
Direção executiva: Janaína Macruz e Juliana Flores
Curadoras convidadas: Flaviana Lasan e Naine Terena

Gestão Financeira: Analysa Contabilidade / Sinergia Projetos Culturais
Assessoria Jurídica: Lúcia Ribeiro e Associados – Sociedade de Advogados
Planejamento de produção: Bruna Pardini
Coordenação de Produção: Nath Sol
Produção Artística: Karu Torres
Produtora de corre: Sara Borem
Coordenação Segurança em Altura: NoAr – Anne Louise
Coordenação Logística: Ana Cecília
Arquiteta: Ivie Zappellini
Produtora técnica instalações: Maria Leite
Produção Logística A&B: Dani Lages
Produtor Operacional: PDR
Assistente Operacional: Monge
Assessoria Administrativa: Tainá Evaristo
Apoio de Produção: Matheus Duarte
Equipe Empena Ed. Paula Ferreira: Ed-Mun (Artista), Simone Abreu (Produtora de Base), Tot (Assistente de Pintura) e Fhero (Assistente de Pintura), Branca (Técnico de Segurança em Altura)
Equipe Empena Levy: Bane (Cleiber Sales), Kássia Borges e Itamar Rios | Coletivo Mahku (Artistas), Sam Luca (Produtor de Base),  Wanatta (Assistente de Pintura), Tita (Assistente de Pintura) e Drim (Coordenador de Pintura), Mari Avelar (Técnica de Segurança em Altura)
Equipe Pintura Chão Praça Raul Soares: Ronin Koshi (Artista), Sadith Silvano (Artista), Marcus Vinícius (Coordenador de Pintura), Comum (Coordenador de Pintura), Tiago Maciel (Consultor de pintura asfáltica), Felipe Amaral (Produtor), Supla (Produtor) | Assistentes de Pintura: Poter, Alvim, Drones, Ash, Pierre, Fear, Fênix, Sink, Surto, Sako
Intérprete Artistas Shipibo: Dan Macruz
Transporte: Colibri
Carregador: Juninho – Jowman

Supervisão de Comunicação: Priscila Amoni
Planejamento de Comunicação: A Firma
Diretora Comercial: Carolina Herszenhut
Coordenação de Comunicação: Nath Queiroz e Paula Kimo
Coordenação de redes sociais: Bruna Brandão e Mariana Cordeiro
Redes sociais: Bruna Brandão, Pedro Saldanha, Débora Rhuama e Mariana Cordeiro
Gerenciador de Anúncios: George Faria
Redação: Carol Macedo
Website: Raphael Santos
Design: 
Alexandre Perocco
Assessoria de Imprensa: Renata Alves
Produção de Comunicação / Audiovisual: Erica Hoffmann
Fotógrafos: Cadu Passos e Lucas Bahia
Editor de fotos: Vinícius Duartte
Filmagens e vídeos finais das obras: Amarantes Filmes | Thiago Souza
Mini Doc: Área de Serviço | Bruno Figueiredo (Direção) | Guilherme Lessa (Roteirista) | Glaydson Mendes (Som Direto)
Série sobre o Território: Olada Audiovisual | Lucas Campolina e Mariana Andrade (Direção), Rodrigo Ferreira (Som) e Pedro Hilário (Som e Montagem)

 

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