Desde que soube que o Circuito Urbano de Arte - CURA 2021 (6ª edição), em Belo Horizonte, seria na praça Raul Soares, fiquei da janela do meu quarto imaginando quais os prédios seriam contemplados. Quando iniciou os trabalhos, então... Olhei ao redor e dou de cara com as primeiras pinceladas na empena do edifício Paula Ferreira, que fica à esquerda da minha janela.
O tema era o CURA se banhar nas águas da avenida Amazonas — rio de seres encantados e entidades, de energia que limpa, cura e faz germinar — para desaguar no centro geográfico de BH: Raul Soares, que ganhou carinhosamente o apelido de Raulzona neste projeto.
O ponto de partida para as
pinturas foi exatamente o chão da praça, com os grafismos marajoara, a fonte de
água com os contornos da Chakana (cruz Inca, povo originário do Peru, país onde
é a foz do rio Amazonas), que representa os três mundos — o inferior (dos
mortos); o mundo em que vivemos (dos vivos); e o superior (dos espíritos).
E a Raul Soares agrega as pessoas. Conhecido território LGBTQIA+, além de espaço de protestos e manifestações; blocos de carnaval; partidas de futebol; de casais de namorados; de quem vai se exercitar, andar de bicicleta ou skate, população em situação de rua...
Presente, também, a energia da floresta e os rituais
com cantos de cura, pinturas, história, saberes e tecnologias dos povos
tradicionais.
Acompanhei o passo a passo da pintura da minha janela. Foi um privilégio, que culminou em uma vista ainda mais esplêndida. Fiquei tão feliz, pois, passei o ano de 2020 e 2021 sem visitar museus por causa da pandemia. E a arte veio até a mim!
Empena
no Paula Ferreira – O responsável pela pintura no
edifício Paula Ferreira foi simplesmente a referência mundial em graffiti 3D, Ed-Mun(MG). São 246,2 m². A obra que
representa a caligrafia, essência do graffiti, e que brinca com a ilusão de
ótica, como se ela saísse de dentro do prédio. A descrição no site do projeto
já explica tudo: “a pintura presta homenagem à comunicação por símbolos e
grafismos. As cores lembram o barro, a cerâmica e as pedras; o pigmento
vermelho amarronzado remete à pigmentação natural e, ao mesmo tempo, dialoga
com a cor da fachada do Paula Ferreira. O movimento dos traços remete ao
símbolo do infinito e mostra que a arte e a escrita podem vir de dentro”. E como o BLOG VIAGENS PELO BRASIL ama grafismos!
Edifício Levy – A outra
empena selecionada foi a do edifício Levy, que fica na avenida Amazonas, 718.
Mais uma grata surpresa para mim. Apesar de ficar longe da minha janela e eu
não conseguir observá-la por inteiro, foi neste prédio que meu cantor e
compositor predileto (Milton Nascimento) morou em BH.
Os responsáveis pela
pintura, vieram do Acre: Kassia Rare Karaja Huni Kuin (Kássia Borges), Bane (Cleiber Sales) e
Itamar Rios. Eles fazem parte do Coletivo MAHKU – Movimento dos Artistas Huni
Kuin, que reúne pesquisadores-artistas indígenas da etnia Huni Kuin.
Foram pintados animais
sagrados da cultura amazônica: jiboia, anta, cotia, javali, capivara e tatu. São
49 m de altura e 490 m².
Edifício
JK – E claro que o JK, por meio do Coletivo Viva
JK (MG), não ficaria de fora. Ele recebeu a intervenção “Vráaaaa na Raulzona”, projetada na
fachada do bloco B do Edifício JK. Foi mais uma grata surpresa, pois, as
projeções no JK sempre são do lado em que não se pode ver da minha janela.
Dessa vez, como a vista tinha que ser para a praça Raul Soares, mais uma vez,
fui privilegiada e acompanhei até os testes da intervenção da minha janela.
“Vráaaaa na Raulzona” é
dirigida pelo videoartista Eder Santos e seu sócio, Barão Fonseca, com
fotografias de mulheres trans e travestis (parte do acervo pessoal de Anyky
Lima e do fotógrafo Lucas Ávila); cenas do videoclipe “Duas Pessoas”, de Aldrin
Gandra e dirigido por Barão Fonseca; cenas de uma batalha de vogue gravadas no
Matriz, cedidas pelo cineasta Leonardo Barcelos; além de manchetes e trechos de
reportagens que localizam um território LGBTQIA+ em disputa na Raulzona, com
histórica perseguição do Estado a corpos e sexualidades dissidentes (parte da
pesquisa de Luiz Morando, autor do livro “Enverga mas não quebra: Cintura Fina
em Belo Horizonte”).
Círculo
da Avenida Amazonas – Praça Raul Soares – E quando pensa que acabou, começa a pintura do chão no entorno da
praça. Pela primeira vez no Brasil, os artistas Shipibo-Conibo Sadith Silvano e
Ronin Koshi, artistas peruanos, realizaram a maior obra deles do mundo. São
2870 m².
Foi realizada uma
pintura-ritual na faixa da avenida Amazonas que circula a praça. Trata-se da
Anaconda, cobra, considerada mãe das águas e do rio Amazonas. Eles pintaram sem
parar. Aliás, pararam porque a chuva caiu. De dia, de noite, de madrugada. E
toda hora que lembrava, eu tirava uma foto para registrar desde as marcas no
chão até a finalização. E a descoberta de cada cor que seria utilizada. As
técnicas utilizadas pelos Shipibo, artistas ancestrais, são rituais passados de
geração em geração. Sempre com a junção de conhecimento da biodiversidade, das
artes, práticas e plantas com poder de cura. Desenvolveram um sistema de
desenhos chamado Kené, declarado Patrimônio Cultural de seu país, cujo traçado
segue padrões geométricos, expressando a cosmovisão shipibo e os seus ícaros,
as canções entoadas nos rituais.
EQUIPE CURA 2021
Direção artística: Janaína
Macruz, Juliana Flores e Priscila Amoni
Direção executiva: Janaína Macruz e Juliana Flores
Curadoras convidadas: Flaviana Lasan e Naine Terena
Gestão Financeira: Analysa
Contabilidade / Sinergia Projetos Culturais
Assessoria Jurídica: Lúcia Ribeiro e Associados –
Sociedade de Advogados
Planejamento de produção: Bruna Pardini
Coordenação de Produção: Nath Sol
Produção Artística: Karu Torres
Produtora de corre: Sara Borem
Coordenação Segurança em Altura: NoAr – Anne Louise
Coordenação Logística: Ana Cecília
Arquiteta: Ivie Zappellini
Produtora técnica instalações: Maria Leite
Produção Logística A&B: Dani Lages
Produtor Operacional: PDR
Assistente Operacional: Monge
Assessoria Administrativa: Tainá Evaristo
Apoio de Produção: Matheus Duarte
Equipe Empena Ed. Paula Ferreira: Ed-Mun (Artista),
Simone Abreu (Produtora de Base), Tot (Assistente de Pintura) e Fhero
(Assistente de Pintura), Branca (Técnico de Segurança em Altura)
Equipe Empena Levy: Bane (Cleiber Sales), Kássia Borges e
Itamar Rios | Coletivo Mahku (Artistas), Sam Luca (Produtor de Base),
Wanatta (Assistente de Pintura), Tita (Assistente de Pintura) e Drim
(Coordenador de Pintura), Mari Avelar (Técnica de Segurança em Altura)
Equipe Pintura Chão Praça Raul Soares: Ronin Koshi
(Artista), Sadith Silvano (Artista), Marcus Vinícius (Coordenador de Pintura),
Comum (Coordenador de Pintura), Tiago Maciel (Consultor de pintura
asfáltica), Felipe Amaral (Produtor), Supla (Produtor) | Assistentes de
Pintura: Poter, Alvim, Drones, Ash, Pierre, Fear, Fênix, Sink, Surto, Sako
Intérprete Artistas Shipibo: Dan Macruz
Transporte: Colibri
Carregador: Juninho – Jowman
Supervisão de Comunicação: Priscila
Amoni
Planejamento de Comunicação: A Firma
Diretora Comercial: Carolina Herszenhut
Coordenação de Comunicação: Nath Queiroz e Paula Kimo
Coordenação de redes sociais: Bruna Brandão e Mariana
Cordeiro
Redes sociais: Bruna Brandão, Pedro Saldanha, Débora
Rhuama e Mariana Cordeiro
Gerenciador de Anúncios: George Faria
Redação: Carol Macedo
Website: Raphael Santos
Design: Alexandre Perocco
Assessoria de Imprensa: Renata Alves
Produção de Comunicação / Audiovisual: Erica Hoffmann
Fotógrafos: Cadu Passos e Lucas Bahia
Editor de fotos: Vinícius Duartte
Filmagens e vídeos finais das obras: Amarantes Filmes |
Thiago Souza
Mini Doc: Área de Serviço | Bruno Figueiredo (Direção) |
Guilherme Lessa (Roteirista) | Glaydson Mendes (Som Direto)
Série sobre o Território: Olada Audiovisual | Lucas
Campolina e Mariana Andrade (Direção), Rodrigo Ferreira (Som) e Pedro Hilário
(Som e Montagem)
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