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sábado, 16 de setembro de 2017

A gruta do Maquiné na terra de Guimarães Rosa

 Como sempre gostou de registrar tudo o que gostava em sua terra, Cordisburgo, João Guimarães Rosa, encantado com a gruta do Maquine dedicou um poema a ela em seu livro Magma. E, claro, que o BLOG VIAGENS PELO BRASIL foi direto conhecer a gruta assim que chegou à cidade. Já havíamos ido antes, mas, não conhecemos Cordisburgo. Desta vez, conjugamos as duas visitas. Para variar e com maestria, o grande Rosa descreve como ninguém essa maravilha que é a gruta do Maquiné:









Gruta do Maquiné

João Guimarães Rosa



A gruta de Ali-Babá ainda existe,

graças a Deus, ainda existia,

quando eu disse:

– “Abre-te, Sésamo!...”,


na fralda da serra,


e fui entrando, deixando cá fora
também o sol, a meio céu, querendo entrar...
Bafio quaternário. O preto
da imensa noite, anterior ao mundo,
com pesadelos agachados
e pavores dormindo pelos cantos,
enrolados nas caudas de gelatina fria,
vem comprimir o peito e os olhos.
E ao acendermos as velas e as lanternas,
a treva se retrai, como um enorme corvo,
das paredes paleozóicas,
salitradas.
 
Subterrâneos de Poe, salões de Xerazade,


calabouços, algares, subcavernas,
masmorras de Luís XI, respiradouros
do centro da terra,
buracos negros, onde as pedras jogadas
não encontram fundo, como pesadelos
de um metafísico...
 Flores de pedra,
cachoeiras de pedra,
cabeleiras de pedra,
moitas e sarças de pedra,
e sonhos d’água, congelados em calcário.
Andares superpostos, hieroglifos, colunas,
estalagmites subindo


para estalactites,
marulhos gotejando das pontas rendilhadas:
– Plein!... ritmos do Infinito...
– Plein!... e séculos medidos por milímetros...

Não falemos, que as nossas vozes, baças,
recuam espavoridas
das galerias ressumantes, das reentrâncias
de um monstruoso caracol...

Rastros de ursos apeleus e trogloditas,
candelabros rochosos,
lustres pendentes de ogivas,
e a visão de Lund, sorrindo, sonhando
com fêmures de homens primitivos,
com megatérios e megalodontes...
Mas é preciso sair. Já é a hora
da noite deslizar para fora da furna,
e subir, desenrolando as voltas
de píton ciclópico,
para encaixar todos os anéis, na altura,
com milhões de escamas fosforescendo

e o enorme olho frio vigiando...


Pinturas rupestres como a encontrada logo na entrada da gruta dão sinais de que ela foi utilizada pelo homem pré-histórico como abrigo. Depois, moradores e fazendeiros exploraram-na para extrair  salitre, usado na fabricação de pólvora. Em 1834, o paleontólogo dinamarquês Peter W. Lund resolveu estudá-la, encontrando fósseis de mamíferos.



Maquiné é muito visitada e cada vez mais ganha infraestrutura. Ela é considerada a primeira gruta a receber investimentos que priorizem o turismo. Pena que ultimamente um dificultador tem prejudicado os visitantes. É que eles apenas aceitam dinheiro para pagar a entrada. O que pode pegar muitos de surpresa.








O acesso é fácil e as visitas são guiadas, mas, algumas passagens e o fato de o ar ser mais pesado dentro da gruta pode dificultar o passeio para alguns, mas, acredita-se que o próprio ar pesado ajudou Lund, que tinha tuberculose, a permanecer na gruta para realizar seus estudos. Em nosso grupo de visitantes e no que nos antecedeu havia alguns idosos e crianças, inclusive duas grávidas e o passeio foi tranquilo. A iluminação e as passarelas criadas facilitam.



  
  
  

 A visita dura em torno de uma hora. É fascinante descobrir os desenhos formados entre pelas estalagmites e estalactites. Foi no meio desses salões e das formações que duas novelas da globo foram gravadas. A Viagem e Império.  












A gruta do Maquiné possui aproximadamente 650 metros de galerias e sete salões abertos à visitação pública. Ao batizar a gruta, Peter Lund homenageou o fazendeiro Joaquim Maria Maquiné, que a descobriu.







 Um museu com entrada gratuita foi montado ao lado da bilheteria. Um pouquinho de tudo o que se encontra na gruta está lá. Ossadas, instrumentos de exploração. No chão, um caminho formado por luz de led traz nomes das plantas e animais pesquisados por Lund e que também podem ser conferidos no zoológico depedra. Há ainda vídeos projetados e um espaço dedicado às crianças.

















Localização:
A gruta do Maquiné está localizada na cidade de Cordisburgo, que fica a 120 km da capital mineira, Belo Horizonte.


Visitei e recomendo: 
Gruta do Maquiné
Museu Gruta do Maquiné


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*Texto e fotos: Karina Motta