Gruta do Maquiné
João Guimarães Rosa
A gruta de
Ali-Babá ainda existe,
graças a
Deus, ainda existia,
–
“Abre-te, Sésamo!...”,
na
fralda da serra,
e fui
entrando, deixando cá fora
também o
sol, a meio céu, querendo entrar...
Bafio
quaternário. O preto
da
imensa noite, anterior ao mundo,
e
pavores dormindo pelos cantos,
vem
comprimir o peito e os olhos.
E ao
acendermos as velas e as lanternas,
a treva
se retrai, como um enorme corvo,
das
paredes paleozóicas,
salitradas.
Subterrâneos
de Poe, salões de Xerazade,
calabouços,
algares, subcavernas,
masmorras
de Luís XI, respiradouros
do
centro da terra,
buracos
negros, onde as pedras jogadas
não
encontram fundo, como pesadelos
de um
metafísico...
Flores
de pedra,
cachoeiras
de pedra,
cabeleiras
de pedra,
moitas e
sarças de pedra,
e sonhos
d’água, congelados em calcário.
Andares
superpostos, hieroglifos, colunas,
para
estalactites,
marulhos
gotejando das pontas rendilhadas:
–
Plein!... ritmos do Infinito...
–
Plein!... e séculos medidos por milímetros...
Não
falemos, que as nossas vozes, baças,
das
galerias ressumantes, das reentrâncias
de um
monstruoso caracol...
Rastros
de ursos apeleus e trogloditas,
candelabros
rochosos,
lustres
pendentes de ogivas,
e a
visão de Lund, sorrindo, sonhando
com
fêmures de homens primitivos,
com
megatérios e megalodontes...
Mas é
preciso sair. Já é a hora
e subir,
desenrolando as voltas
de píton
ciclópico,
para
encaixar todos os anéis, na altura,
com
milhões de escamas fosforescendo
e o
enorme olho frio vigiando...
Pinturas
rupestres como a encontrada logo na entrada da gruta dão sinais de que ela foi
utilizada pelo homem pré-histórico como abrigo. Depois, moradores e fazendeiros
exploraram-na para extrair salitre, usado
na fabricação de pólvora. Em 1834, o paleontólogo dinamarquês Peter W. Lund
resolveu estudá-la, encontrando fósseis de mamíferos.
Maquiné
é muito visitada e cada vez mais ganha infraestrutura. Ela é considerada a
primeira gruta a receber investimentos que priorizem o turismo. Pena que
ultimamente um dificultador tem prejudicado os visitantes. É que eles apenas
aceitam dinheiro para pagar a entrada. O que pode pegar muitos de surpresa.
O
acesso é fácil e as visitas são guiadas, mas, algumas passagens e o fato de o
ar ser mais pesado dentro da gruta pode dificultar o passeio para alguns, mas,
acredita-se que o próprio ar pesado ajudou Lund, que tinha tuberculose, a
permanecer na gruta para realizar seus estudos. Em nosso grupo de visitantes e
no que nos antecedeu havia alguns idosos e crianças, inclusive duas grávidas e
o passeio foi tranquilo. A iluminação e as passarelas criadas facilitam.
A
visita dura em torno de uma hora. É fascinante descobrir os desenhos formados
entre pelas estalagmites e estalactites. Foi no meio desses salões e das
formações que duas novelas da globo foram gravadas. A Viagem e Império.
A gruta do Maquiné possui aproximadamente
Um museu com entrada gratuita foi montado ao lado da bilheteria. Um pouquinho de tudo o que se encontra na gruta está lá. Ossadas, instrumentos de exploração. No chão, um caminho formado por luz de led traz nomes das plantas e animais pesquisados por Lund e que também podem ser conferidos no zoológico depedra. Há ainda vídeos projetados e um espaço dedicado às crianças.
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