“No que vagueia os
olhos, contudo, surpreende-se-lhe o imanecer da bem-aventura, transordinária
benignidade, o bom fantástico”.
Guimarães Rosa
Se o escritor Guimarães Rosa é famoso por inventar palavras,
só mesmo inventando uma para descrever as maravilhas de sua cidade natal, que é
Cordisburgo. Porém, como não tenho a perspicácia e competência dele, não
inventarei. Sigo em minha função de escrever sobre minhas impressões dos locais
que visito e Cordisburgo fez jus ao nome e a cidade entrou mesmo em meu coração. Em latim, Cordis significa Coração e, em alemão, Burgo significa cidade, ou seja, "Cidade do Coração".
Revisitei a Gruta do
Maquiné recentemente. Havia ido na adolescência e ainda guardo lembranças
de lá, mas, revê-la foi incrível. Então, como fica em Cordisburgo, dei uma esticadinha até a cidade. A grandiosidade e beleza da gruta merece destaque, por isso,
dedicarei um post exclusivo para ela e aproveito
este para descrever a cidade, vida e obra de Guimarães Rosa, que foi Médico,
escritor e diplomata. Viveu em Cordisburgo até os nove anos de idade. Sua obra
mais marcante é o romance Grande Sertão: Veredas. E há alusão a ele, na
verdade, por toda a cidade, mas, ganhou homenagem especial no portal Grande Sertão, com estátuas em bronze
dos tropeiros e do próprio autor e que fica na Praça Miguilim. As esculturas foram criadas por Leo Santana, o
mesmo que fez a estátua de Carlos Drummond de Andrade em Copacabana, no Rio de
Janeiro.
Assim, Cordisburgo e seus moradores têm papel importante nas histórias do escritor. A casa onde o escritor nasceu virou o Museu Casa Guimarães Rosa, com objetos de uso pessoal e outros que contam a trajetória profissional dele, além de utensílios domésticos, mobiliário e objetos que fazem alusão às histórias contadas por Rosa, como a cela de cavalo para mulheres, que montavam de lado e uma vestimenta de tropeiro, especialmente bordada por fora e por dentro com aspectos do universo roseano. A venda do pai também funcionava no local e ela ainda está montada. Agora, ver sua máquina de escrever, a reconsti-tuição de seu escritório e, principalmente, os rascunhos de alguns de seus textos é emocionante.
No museu, é possível, ainda, encontrar o resultado do trabalho da Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa, que mantém a Biblioteca Pública “Riobaldo e Diadorim”, dos “Contadores de Estória Miguilim” e do Grupo da Melhor Idade “Estrelas do Sertão”, com senhoras que se encontram regularmente para bordar, costurar e tecer. A visita guiada à casa é feita por voluntários do grupo Miguilim. No final, ainda há contação de histórias de algum trecho dos livros de Rosa e há quadros bordados nas paredes, feitos pelas senhoras. Os bordados são inspirados em imagens e trechos retirados da obra do escritor.
Em frente ao museu, encontra-se a Estação
Ferroviária, inaugurada em 1904. Ela cortava o município, ligando Belo
Horizonte a Curvelo. Hoje há apenas o transporte de carga.
O idealizador da casa é Istamar Jr., o mesmo que criou as esculturas do Zoológico de Pedras Peter Lund, que estão na praça Octacílio Negrão de Lima. Os animais são todos confecionados com telas, areia e cimento. Todos pertencem ao período pleistoceno: preguiça gigante, tatu gigante, tigre dente de sabre, toxodonte e mastodonte. Todos possuem identificação com o nome científico. A maioria vivia na gruta do Maquiné e seus fósseis foram descobertos pelo dinamarquês Peter Lund, considerado o pai da arqueologia brasileira.
Das igrejas da região, o
BLOG VIAGENS PELO BRASIL visitou duas delas. Uma simples e encantadora fica
próxima ao portal Grande Sertão. É a Capela
do Patriarca São José, na praça
Alcides Lins. Foi aqui que a cidade começou.
Já a Matriz do Sagrado Coração de Jesus fica na praça Frei Sofonias. Construída no século XIX, foi modificada. A
nova arquitetura segue o estilo eclético e foi realizada em meados do século XX.
Apenas as torres centrais permaneceram como o projeto original. Foi nela que
Guimarães Rosa foi batizado. As duas estavam fechadas e não pude conhecê-las
por dentro, mas, as achei muito singelas por fora.
Por toda Cordisburgo, encontram-se Marcos Territoriais. Eles citam trechos dos livros de Guimarães
Rosa que versam sobre o local onde estão. Ao todo, são 95 pontos estratégicos,
sendo 40 deles instalados na cidade natal do escritor. A cidade respira o
grande Rosa! Percorrê-la e verificar referências de toda a cidade registradas
na obra de Rosa é recompensador. Relembra a expedição que o autor fez e
inspirou, principalmente, seu principal livro: Grande Sertão, Veredas. Pontos
turísticos, personagens (amigos do autor), histórias... podem ser revividos
pelos turistas.
Almoçamos no restaurante Sarapalha. Ambiente simples, mas, acolhedor. Comida mineira no fogão a lenha e decoração que lembra Guimarães Rosa. Aliás, o próprio nome do restaurante é referência a um conto do livro Sagarana.
Da capital mineira, Belo Horizonte, a distância é de 120 Km.
Visitei e recomenda:
Portal Grande Sertão
Praça Miguilim
Museu Casa Guimarães Rosa
Grupo
Miguilim
Estação Ferroviária
Casa Elefante
Zoológico de Pedras Peter Lund
Praça Octacílio Negrão de
Lima
Capela do Patriarca São
José, na praça Alcides Lins
Matriz do Sagrado Coração de Jesus, na praça Frei SofoniasMarcos Territoriais
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*Texto e fotos: Karina Motta
Eu era um menino de 16 anos e lia o engenheiro Euclides da Cunha. Sua explosiva montagem de engenharia de expressão escrita me chamou a atenção. O médico Guimarães, eu ouvia falar dele. Euclides como que me deteve. E Deus me trouxe até aqui passado 1/2 século. Magnífica nossa viagem humana no planeta. Agora me detenho frente a esta Igreja do Sagrado Coração de Jesus de Cordisburgo que me detém infinitamente mais...:)
ResponderExcluirQue lindo! Pena que não se identificou...
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