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domingo, 22 de maio de 2022

A poesia de Drumond em sua terra natal Itabira/MG

Finalmente, fui conhecer Itabira/MG, cidade onde nasceu o poeta Carlos Drummond de Andrade parece que demorou para que fosse muito especial. O caminho para a cidade , por ser o mesmo para a praia dos mineiros, Espírito Santo, é muito cheio nos feriados. Eis que conheço pelas redes sociais, a agência Vamos Viver e Viajar, com uma proposta bem cultural que é o que eu sempre critiquei não ter este espaço nas agências de turismo brasileiras. E lá foi o BLOG VAIGENS PELO BRASIL passear pela cidade com foco na vida e obra de Carlos Drummond de Andrade.  O poeta nasceu em Itabira em 1902.
Foto: Júlio - Agência Vamos Viver e Viajar


Há várias estátuas em bronze de Drummond em toda cidade. Já na chegada, há uma enorme e a guia local que nos acompanhou explicou que ela tem duas perspectivas: a de dar boas vindas aos visitantes e uma mais pessimista, de ele estar indo embora da cidade.






Cultura, literatura e natureza se misturam no Pico  do Amor, também presente nos poemas de Drummond. É do Pico do Amor que o poeta fala da saudade da cidade onde nasceu em “Confidência do Itabirano”, ele diz: “Itabira é apenas uma fotografia na parede, mas como dói”! 








Infelizmente, é possível verificar também a destruição da natureza. Do mirante do pico do amor, também se vê a transformação do Pico do Cauê em barragem para conter os rejeitos da mineração. E agora, José? Mas como dói mesmo! E pensar na discussão recente da mineração na Serra do Curral, que destruirá o Pico Belo Horizonte.  









Dizem que, também, pela tristeza de ver sua cidade destruída pela mineração, Drummond não voltou mais ao município em que nasceu desde 1948. Além de já ter perdido familiares. Ele afirmou certa vez que amava Itabira porque ninguém passa impunimente a infância em algum lugar. Além disso, em entrevista à jornalista Leda Nagle em 1981, ele afirmou: “achavam que isso (o poema Confidência do Itabirano) era pouco caso com Itabira. Ao contrário: isso é testemunho da presença pungente de Itabira no meu ser”. E explicou: “não vou [mais] lá porque meus parentes morreram, meus amigos morreram. Itabira hoje é uma cidade de 100 mil habitantes, gente de fora, da Companhia Vale do Rio Doce, que faz a extração do minério. Então, eu vou lá para quê? Para ver um passado meu que já não existe? Para sofrer? Eu vejo a minha Itabira do passado na minha fotografia na parede”. Mas, discreto e tímido como sempre foi, a guia local que nos acompanhou disse que ele sempre voltava tarde da noite. Andava pelas ruas e ia embora. 





Drummond gostava tanto da cidade, que sempre a defendeu Itabira. Prova disso é que o município só começou a receber os royalties do minério em 1966, por causa de sua luta. Infelizmente, a economia da cidade gera em torno da Vale, maior mineradora brasileira, instalada em Itabira desde 1942. 

Entretanto, nem sempre foi assim. A economia da cidade era a indústria têxtil. Inclusive, duas delas faliram por causa da mineração, que matou os mananciais e a água é fundamental para esse tipo de empreendimento funcionar. Inclusive, a senhora que fundou uma das empresas, fará parte de um documentário sobre mulheres empreendedoras. Ela criou a indústria sozinha na época em que só homens eram empreendedores ou as mulheres apenas herdavam os empreendimentos e essa senhora começou a indústria sozinha e do zero.  

Retomando o pico do Amor. É lá que fica o Memorial Carlos Drummond de Andrade. O projeto arquitetônico é de Oscar Niemeyer, que era amigo de Drummond. Ele conta toda a história do poeta com sua obra, fotos e objetos pessoais. Estava fechado quando fomos, mas, do lado de fora, há fotos com espécies da fauna e da flora encontrados na Floresta do Intelecto, que fica na área do memorial. Amei o nome da floresta. 
Foto: Wagner Dias Ferreira











Do lado de fora, é possível apreciar a linda vista desta mata, fazendo moldura para a estátua de bronze do poeta. Esta, de autoria do mesmo artista (Léo Santana) que fez a estátua dele no Rio de Janeiro


As três fotos acima, o crédito é Júlio - Agência Vamos Viver e Viajar

Conhecemos, ainda, a Fazenda do Pontal, que pertenceu ao pai de Drummond e onde ele passou sua infância. Ela não está em seu local de origem porque, para a mineração, foi necessário construir uma barragem em 1973 no seu lugar. 




A guia nos mostrou onde ela ficava. Hoje, tem também uma plantação de eucaliptos.

Em contrapartida a tirar a história de seu lugar, a fazenda foi desmontada e reconstruída (como quebra-cabeça) com as peças e materiais originais como a madeira braúna, presente também em todas as construções da época . 

Representando a infância do poeta na fazenda, logo na entrada, há uma estátua de Drummond com dois anos de idade de bicicleta.




No Museu de Territórios Caminhos Drummondianos, o BLOG VIAGENS PELO BRASIL viu as mesmas placas presentes em Cordisburgo/MG, de Guimarães Rosa, com trechos dos livros dos autores contando a história da cidade. Aqui, são de ferro e têm uma autocaricatura de Drummond e sua assinatura.
O museu resgata a Itabira antiga através das referências encontradas na obra de Carlos Drummond de Andrade. Segue a proposta de um museu a céu aberto como Inhotim/MG. E A primeira placa-poema foi inaugurada em 1997, com o poema “A Alfredo Duval”. Localizada em frente à casa onde morou o santeiro que era muito amigo de Drummond, ainda na infância.
Ao todo, são 44 placas com poemas de Carlos Drummond de Andrade, descrevendo locais, personalidades ou situações da época que o poeta vivia em Itabira. Tais poemas estão distribuídos ao longo da cidade. Elas também são assinadas pelo artista responsável pela famosa estátua do poeta em Copacabana-RJ.





O primeiro que vimos foi “O Maior Trem do Mundo” (na praça do bairro Areão).







Entre os poemas mais famosos que compõe o museu de território, destacam-se “José” (localizado na Rua Tiradentes, no Centro Histórico), onde hoje funciona o mais tradicional hotel da cidade e onde José foi atrás de sua amada e foi cenário para inspirar o poema.




“Infância” (Fazenda do Pontal) 

e “Confidência do Itabirano” (no Memorial Carlos Drummond de Andrade).

Na escola em que Drummond estudou, há uma placa com o poema em que ele diz que roubava jabuticaba do pé e também uma estátua dele no pátio principal.




A proposta da agência  Vamos Viver e Viajar foi realizarmos um walking tour pelo centro histórico de Itabira onde o turista pode procurar cada placa e percorrer todos os caminhos que fizeram parte da vida de Drummond ou sair andando e encontrando cada uma aleatoriamente. Mas, se preferir (e foi o que fizemos), é excelente experiência percorrer com um guia local, com jovens de até 18 anos do projeto Drummonzinhos. Eles declamam as poesias de Drummond em cada um dos pontos visitados. E pode perceber a ligação entre eles. A guia Evelin, de 15 anos, que nos acompanhou. É encantador. 

As duas fotos acima - o crédito é agência Vamos Viver e Viajar

Casa de Drummond e Museu de Itabira é um sobrado também tombado pelo Patrimônio Histórico. Ela é do século XIX e pertenceu à bisavó do poeta. Na verdade, em sua origem, era apenas um andar. O avô do poeta era tropeiro e quando voltou de uma viagem, a avó já havia construído o segundo andar. Em estilo colonial, possui 32 cômodos.



Caricatura feita pela filha de Drummond












A casa, antes de virar museu, foi Casa de Câmara e Cadeia. por isso traz grades nas janelas onde eram as celas 
Há alguns móveis que pertenceram à família e foram doados ao museu pelo neto de Drummond, Pedro.
Era costume na época, colocar na sacada, o brasão da família. Nesta casa, há a lira, que é o símbolo do sobrenome Drummond. 

É nessa casa que tem um museu contando a história de Drummond, pois ele morou no casarão dos dois aos treze anos de idade. O museu foi criado em 1971. A construção foi alterada, mas mantém ambientes que serviram de inspiração para os 45 poemas que Drummond abordou a residência. E tem uma parte com o museu contando a história da mineração e da tecelegem, da arquietetura de Itabira, fotografia e religiosidade.










Também serviu de inspiração para poema e faz parte da casa, o  jardim feito pelo irmão José, com canteiros em forma de estrela, lua e coração.
 

No andar de cima, há exposições temporárias. A que estava sendo exibida era em homenagem às duas comunidades quilombolas que tem na região. 






A arquitetura da cidade chama a atenção, mas está muito descaracterizada e compõe o passeio cultural pela cidade, principalmente, em seu centro histórico com sobrados e casarões do final do século XVIII e início do XIX feitos em madeira, adobe e pau-a-pique. 


























O calçamento era do minério, mas também foi descaracterizado. Há apenas em poucos locais.
Exemplo dessa descaracterização é a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha. Ela foi destruída do dia para a noite, tomando de surpresa os moradores. Foi erguida outra no lugar com arquitetura moderna. No museu, é possível ver a diferença e a descaracterização total. 

Alguns justificaram que a estrutura estava abalada porque na rua dela passavam as máquinas pesadas da Vale. 
Para a nova construção, o pai de Drummond doou 9 kg de ouro para o sino principal da igreja.








No centro, ainda encontramos a praça do Centenário, com a Casa Paroquial.









A única igreja preservada da cidade é a Catedral de Nossa Senhora do Rosário. Lindíssima! Já é uma das preferidas da minha coleção.



Dizem que por dentro é maravilhosa, mas não tivemos a sorte de entrar. Quando saímos do museu, eles ligaram para a responsável pelas chaves da igreja para que pudesse abrir para nós. Infelizmente, ela não pôde ir. 

A Ermida de Nossa Senhora do Rosário foi construída pelos negros alforriados no final século 18 para a Santa Maria do Rosário dos Pretos. Ela é em estilo barroco e a pintura do teto da capela-mor é atribuída à Mestre Ataíde, ou a alguém de sua escola.

Houve sorteio por parte da agência Vamos Viver e Viajar do livro Corpo de Drummond e.... eu ganhei!



Crédito das três útimas fotos: agência Vamos Viver e Viajar
O caro leitor que acompanha o BLOG VIAGENS PELO BRASIL sabe o quanto valorizo e destaco as maravilhas dos lugares que visito. Infelizmente, em Itabira, não dá apenas para falar de coisa boa já que seu representante mais famoso lutou tanto contra as maldades que fizeram contra a cidade. Infelizmente, impossível não citar o quanto a mineração destruiu a cidade. 

As condicionantes mesmo só vieram nos anos 2000, como a concha acústica construída no Pico do Amor e o monitoramento do ar (triste uma cidade que perdeu mananciais ser obrigada até a monitorar seu ar de tão poluído que está). É lamentável chegar ao mirante do Pico do Amor  para ter uma vista de toda a cidade e a primeira coisa que se vê é a devastação causada pela mineração e a barragem no lugar do pico do Cauê. 




E pensar que a Vale já causou tanta destruição em Minas e a mineração continua querendo engolir nossas comunidades e riquezas naturais na exploração sem medida de nossas riquezas minerais.



Localização: 
Itabira fica a pouco mais de 100 km de Belo Horizonte. E faz parte do Circuito do Ouro na Estrada Real

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*Texto e fotos: Karina Motta

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