Imagem: Marcelo Dias / Futura Press / Estadão Conteúdo |
Imagem: Luan Santos/UOL |
Lamentavelmente, por força das circunstâncias, nós, que sempre priorizamos conhecer museus, não tivemos a oportunidade de visitar esse. Apenas o vimos de longe quando estivemos no Rio de Janeiro. E agora é que não o vermos mais mesmo...
Novamente, o BLOG VIAGENS PELO BRASIL conta com o colaborador Wagner Dias Ferreira para registrar nosso desabafo quanto a essa catástrofe:
Adeus, Luzia!
*Wagner Dias Ferreira
Adeus, Luzia. Perdoe o
descaso. Siga mais forte, agora na alma e no inconsciente coletivo do povo
brasileiro.
Luzia me foi apresentada nos
bancos de escola. O crânio humano mais antigo das américas. Encontrado na
Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. Permaneceu por cerca de
10.000 anos protegido pelo ambiente de grutas e pela natureza de Minas Gerais.
Agora, destruído pelo homem moderno. Os civilizados, evoluídos não destruíram a
mulher negra forte e resistente, aquela que lutou e existiu por milênios.
Em menos de 200 anos, depois
de ser retirada do local onde foi encontrada, agora é cinza. Antes permanecesse
deixada aos cuidados da natureza que foi muito mais preservadora do que a
humanidade. Que se cuide o planeta Terra, Marte e o próprio sol. O homem está
chegando.
O crânio de Luzia é
referência para identificar os processos migratórios da humanidade na
Pré-História, sendo um crânio negroide, demonstra que ela pertenceu a processos
migratórios africanos que permitiram ao homo sapiens negro povoar o mundo.
Central também para entender
o racismo no inconsciente coletivo humano. É que o primeiro grande processo
migratório dos homo sapiens negroides provavelmente implantou povoamentos
negroides em todo o mundo. Posteriormente os processos migratórios de
populações não negroides promoveram o enfrentamento dessas primeiras populações
para se instalarem. Nascendo aí um
primeiro sentimento racista.
Em Minas, na cidade de Barão de Cocais, é possível encontrar o monumento da Pedra Pintada com excelentes
pinturas rupestres, muito bem preservadas, e observar o local ver como aquelas
populações negroides viviam (as pinturas da Pedra Pintada têm idade semelhante
ao crânio da Luzia).
No Brasil, quando se visita o
Museu Arqueológico de Xingó, lá onde está a Hidrelétrica, em Sergipe, observam-se
elementos de populações não negroides, já mais parecidos com os índios
brasileiros encontrados, nas suas diversas nações, no tempo das invasões europeias
protagonizadas por portugueses, espanhóis, holandeses e franceses. Mostrando
como as migrações não negroides foram chegando em seguida àquelas que as
precederam.
Estas duas constatações em
Minas Gerais e em Sergipe demonstram como o Brasil é importantíssimo no
estabelecimento das dinâmicas das migrações pré-históricas que povoaram o
mundo, inclusive na teoria da transposição para as Américas pelo estreito de
Berhing, primeiro as populações negroides, depois as populações não negroides.
Essa superficial constatação
demonstra o peso da perda que o mundo e a humanidade sofreram com o incêndio do
Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro.
Observem que está referido
aqui, superficialmente, apenas os tópicos pré-históricos brasileiros. Ao se
avaliar todo o acervo perdido a única palavra que pode aproximar o sentimento
de perda é incomensurável.
Mais importante do que punir
os negligentes, imprudentes e que agiram com falta de perícia no trato do
acervo do museu é imediatamente estabelecer a prevenção de novos eventos dessa
natureza.
Minas Gerais está cheia de
monumentos históricos pré-históricos, pré-coloniais, coloniais, imperiais e já
republicanos que precisam de imediata atenção do povo, que precisa preservar
sua história para não perder sua identidade.
Certa feita, ao atuar em um
processo judicial (1991), foi necessário pleitear uma certidão de nascimento em
uma cidade do interior de Minas Gerais. A resposta do cartório fora que os
documentos da época haviam se perdido em um incêndio durante os combates entre
Minas e São Paulo na Revolução de 30. Ao oficiar a Paróquia da cidade para
pleitear o Batistério da pessoa, a igreja prestou a mesma informação. Então, o
Brasil precisa superar a cultura de tolerar as perdas provocadas por incêndios.
Isso não pode ser comum ou normal.
Urge promover uma intensa
interação e integração do povo com o patrimônio histórico para que isso cause
aos governantes o constrangimento necessário a uma permanente ação de
preservação desses elementos que compõem a identidade, presente no inconsciente
coletivo do povo brasileiro.
*Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG
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*Texto Wagner dias Ferreira e fotos sem crédito: Karina Motta
Obrigado.
ResponderExcluirParabéns Dr.Wagner é importante mesmo o povo valorizar visitando e mostrar interesse pelo nosso patrimônio, nossa história.E preciso promover ia integração maior através de varios grupos cobrando dos governos respeito e cuidado pelo patrimônio histórico. É uma pena que chegou neste nível de descaso.
ResponderExcluirpena mesmo
ExcluirCriatividade da minha amada esposa Karina Motta que gerencia o BlogViagensPeloBrasil impressiona. Melhora muito o nível de meus escritos.
ResponderExcluirSeus escritos é que são muito bons
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