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domingo, 14 de abril de 2019

Artista chinês destaca o Brasil e suas obras-referência no CCBB/BH

Após um ano de imersão cultural no Brasil, o artista plástico Chinês Ai Weiwei criou obras inéditas e, junto com outras históricas, ele as expõe no Centro Cultural Banco do Brasil
da ca-pi-tal mi-neira. Com curadoria de Marcello Dantas, o projeto recebe o nome de Raiz – Ai Weiwei e privilegia biodiversidade, a paisagem humana e a criatividade brasileiras. As questões sociais e humanas contemporâneas são sempre abordadas pelo artista e isso o tem destacado no cenário internacional.

Essa exposição era para ser inaugurada em 2013, mas um mês depois que recebeu o convite, em 2011, Weiwei foi preso pelo governo chinês por causa de suas críticas ao regime ditatorial. Assim, o projeto foi suspenso e em 2015, depois de quatro anos em prisão domiciliar, foi retomado e concluído em 2018.
Sua ligação com o Brasil é antiga. Na obra Two Figures, o artista procurou aqui e usou a semente olho-de-dragão, que seu pai Ai Qing, reconhecido poeta moderno da China, quando veio visitar o Brasil, levou o grão de lembrança para seu filho.Para elaborar a obra, o artista e uma modelo contratada foram moldados em Trancoso, na Bahia por uma equipe de profissionais que veio da Alemanha e os moldes foram fundidos em gesso.

Em outros trabalhos, podemos verificar o uso de madeira, tecidos, pele de vaca e raízes secas de pequi-vinagreiro, árvore da Mata Atlântica baiana em risco de extinção.


Algumas esculturas em madeira fazem referência aos artistas de Joazeiro do Norte, no Ceará como o Ex-votos, que foram elaborados especialmente para a mostra de BH.



Na obra mutuofagia, o artista marca sua comunhão entre intercâmbios culturais e mostra um ritual antropofágico em que, ao mesmo tempo em que se oferece, o artista come os frutos brasileiros.
Raiz – O nome da exposição faz referência a um poema do pai de Weiwei de 1940. Ele fala da comunicação entre árvores por meio de suas raízes. Tudo a ver com sua trajetória criativa, que busca as raízes de seu país natal e dos outros por onde viaja, destacando suas tradições além da crítica social e política.

O artista quis unir contextos culturais chineses e brasileiros e as árvores brasileiras chamaram bastante atenção dele. A obra Sete raízes foi criada em um estúdio montado em Trancoso/BA onde encontrou troncos e raízes para compor sua obra vindas do desmatamento ou por causas naturais caíram. Para montar a obra, usou técnicas de carpintaria chinesa e uniu partes distintas de árvores para criar novas formas.



Árvore
Uma Árvore, outra árvore,
Cada uma de pé e eretas
O Vento e o Ar
Dizem de sua distância
Mas Abaixo da capa da terra
Suas Raízes se estendem
E em profundezas que não se vê
As raízes da árvore se entrelaçam

Ai Qing, 1940


A   propos t a  de sua criação é sempre integrar comunidades na produção de sua arte. A primeira obra da exposição, a Sunflower Seeds, traz suas pesquisas sobre as tradições manuais chinesas proibidas pela Revolução Cultural e ameaçadas de acabar por conta da industrialização no país. Aqui, a crítica pela produção em massa e falta de individualidade marca presença. Na instalação há inúmeras sementes de girassol de porcelana. Elas foram feitas à mão por 1,6 mil mulheres chinesas, em 2010. No total, elas produziram cerca de 100 milhões de sementes. Em Belo Horizonte, a obra tem duas toneladas delas.
Weiwei sempre lutou contra as injustiças pelos países aos quais viaja. Ativista dos direitos humanos e da liberdade, assim que começou sua imersão artística no Brasil, participou do protesto contra a censura à arte sob a marquise do Masp. E na obra Marcas traz um conjunto de obras em couro de vaca com citações sobre poder e raça. É forte a crítica social e política utilizando o alfabeto armorial, de Ariano Suassuna . 
A palavra FODA, formada por elementos tipicamente brasileiros: Fruta do conde, Ostra, Dendê e Abacaxi é formada em uma de suas instalações.
Obras históricas e crítica social — Um simples urso de pelúcia intriga ao saber a história por trás da criação da obra. Ela se chama Panda to Panda e é relacionada a um dos maiores escândalos de espionagem dos Estados Unidos. De acordo com a apresentação da mostra, Weiwei se juntou a Edward Snowden, ex-administrador de sistemas da CIA, e destruíram juntos uma série de documentos importantes sobre o sistema de vigilância global realizado pelos norte-americanos. Os papeis picotados viraram enchimento de pandas de pelúcia e os vários bonecos desta produção foram comercializados normalmente. Um vídeo ao lado da obra mostra, com detalhes, todo o processo.




Em sua crítica à destruição da memória, ele também criou Dropping a Han Dynasty Urn, que é uma fotoperformance em que o artista quebra uma urna de 2000 anos da Dinastia Han, período da história da civilização chinesa.

O dedo médio em riste sempre está presente, inclusive em um papel de parede. Ele faz referência a uma série de trabalhos em que Weiwei fez o gesto para ironizar monumentos chineses e passou pela censura por não significar nada na China. Ele utilizou um código não conhecido na China para protestar.


Muito famosa, a porcelana chinesa aparece em algumas obras. Em uma delas, são vasos empilhados com motivos sobre os refugiados. e em um prato de louça branca e azul.

Em Taifeng, a obra foi elaborada com material e técnica utilizada para construção de pipas na província chinesa de Shandong. Papel seda e bambu a compõem.


O mapa da China aparece de diversos materiais. O mais impressionante é em madeira recuperada de templos destruídos da dinastia Qing.









Em Law of Journey , o destaque é a questão dos refugiados. Trata-se de um bote inflável carregando refugiados fugindo da Síria, em tamanho maior que o real com coletes salva-vidas.


 

Relacionada à infância do artista, temos Forever Bicycles são 1254 bicicletas encaixadas formando blocos de construção, remetendo à arquitetura e ainda lembra seus tempos áureos na China quando todos tinham uma bicicleta. Forever é marca de bicicletas chinesa.
 

 
Aliás, arquitetura é outro tema muito afeto ao artista, ao qual sempre esteve muito ligado. E ter colocado a obra das bicicletas montada do lado de fora do museu, ao lado de um dos ícones da arquitetura brasileira, simbolizado pelo edifício Niemeyer. 

A arquitetura e design também aparecem na obra cubo de porcelana em que o minimalismo é outro componente. Este é um movimento artístico com o qual Weiwei se sentiu atraído nos anos 1980, quando morou em Nova Iorque.
As fases da lua aparecem em Moon Chest (Cofre de Lua), uma série de baús feitos com o Marmelo Chinês, a madeira Huali. As incisões feitas tanto na parte inferior quanto superior dos baús e a disposição em que são colocados na sala faz com que, ao olhar por dentro, o visitante possa observar as fases da lua.


Weiwei também se destaca pelo uso inteligente das tecnologias de comunicação e das redes sociais. Em um papel de parede, aparecem motivos que lembram a liberdade de expressão, vigilância constante e redes sociais.


Em Casa de Caranguejos, Weiwei usa uma metáfora dos internautas e o controle à internet na China. A ligação se faz porque, em mandarim, a pronúncia deste crustáceo é hexie, que se parece com harmonia e é justificativa do governo chinês (necessidade de uma sociedade harmoniosa) que eles aplicam a censura.



O imediatismo das mídias e da fotografia digitais aparece na obra que reúne vários monitores com imagens que mudam a cada quatro segundos. 

A vigilância aparece em outra obra. Após 81 dias preso, Weiwei foi solto após pagar fiança e com muitas restrições: não podia falar com a mídia, nem sair de Pequim por um ano. Ele reparou que nessa época mais de vinte câmeras foram instaladas ao redor do seu estúdio em Pequim para monitorá-lo.

Ele espalhou lanternas vermelhas para mostrar que sabia a localização delas e foram retiradas. A partir daí, começou uma campanha demonstrada na instalação florescer, que reúne 16 obras com referência às flores Flowers For Freedom, que o artista começou a colocar em frente ao seu estúdio para pressionar a fim de que seu passaporte fosse devolvido.

O CCBB – O prédio é lindo por natureza. Detalhes da arquitetura e decoração impressionam. O projeto é do arquiteto Luiz Signorelli, fundador da Escola de Arquitetura da Universidade de Minas Gerais. Durante a Revolução de 1930, abrigou o Comando Geral das Forças Revolucionárias. Desde 2013, integra o Circuito Cultural da Praça da Liberdade.





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                                       *Texto e Fotos: Karina Motta

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