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domingo, 18 de dezembro de 2016

A Capital do Apito do Trem, só do apito

                                                                                                        *Wagner Dias Ferreira

 Neste post, o BLOG VIAGENS PELO BRASIL publica artigo do marido da administradora e gestora de conteúdo do blog. Com quem ela faz a maior parte dos passeios aqui publicados. Aliás, já está programado para o ano que vem fazermos o circuito citado neste artigo,que é BH ao Espírito Santo. O VIAGENS PELO BRASIL que tanto ama trens não poderia deixar de divulgar este texto que discute a importância de se contextualizar este meio de transporte e, como ele mesmo diz: "É preciso compreender o povo de Minas e comprometer-se com sua cultura para que o trem aqui não seja só um apito."                                                                             
Desde que passei a chegar para o trabalho no escritório que está localizado no tradicional Edifício Arcângelo Maletta no horário de 7 horas, para aproveitar o momento de sossego, sem celular, whatsapp, telefone fixo ou clientes presenciais para a elaboração de peças processuais privativas do advogado, sou saudado todos os dias com o apito do trem.

Apesar de Belo Horizonte ser uma metrópole contemporânea com toda agitação comum às grandes regiões metropolitanas do mundo ainda se encontram pessoas pelas ruas que a consideram uma “roça grande”. É a única capital do país que tem a partida regular de um trem de passageiros interestadual às sete da manhã rumo a Vitória/ES. Possui na praça mais central da cidade uma Cafeteria Tradicional, o Café Nice, onde ao longo de todo o dia se encontram pessoas conversando temáticas as mais diversas entre um café e outro. Agora ainda mais com a revitalização do Cine Brasil Valourec.

Não bastasse tudo isso, o “mineirez”, liguagem muito própria de pessoas nascidas no estado de Minas Gerais, reinventou a palavra “trem” . Como quando se pergunta: Você faz esse trem pra mim? Ou “Tem certeza que vai levar esse trem pra casa? Ou Acha mesmo que consegue comer esse trem?  Assim, o “trem” fica de forma absoluta incorporado à linguagem do mineiro e portanto da cultura do estado, não só como meio de transporte mas como um ente identificador deste povo.

A incorporação desse fator cultural fez com que Rio Acima na região metropolitana criasse um trem para passeios. Passa Quatro no interior de Minas também. E ainda o trem que liga Ouro Preto e Mariana. O SESC Grussaí, Litoral Norte do Estado do Rio de Janeiro, já sabendo que receberia mineiros aos montes colocou dentro das suas instalações um trem para o City Tour no próprio SESC Grussaí que é imenso.

É por tudo isso que não há como compreender o desprezo e a total incompetência dos governantes para implantar o metrô como meio de transporte integrador da Região Metropolitana da Capital. Constatar que há pessoas em Belo Horizonte que nunca se utilizaram do metrô. É porque o existente não atende bem a cidade, deixando diversos lugares importantes e populosos fora do alcance do importante meio de transporte.

Para uma cultura tão receptiva ao transporte sobre trilhos, os governantes do país, do estado e dos municípios da Região Metropolitana, não somente da Capital, mostram-se extremamente incompetentes pela incapacidade de fazer do metrô em Belo Horizonte um fator de transporte relevante e culturalmente imperativo.

Por isso ao ouvir o apito do trem às sete da manhã todos os dias quando chego para trabalhar no edifício Maletta me regozijo na cultura onde fui criado, mas me entristeço com os governantes que a todo momento vejo na TV incapazes de mostrar respeito pela cultura deste povo deixando de valorizar os elementos que o mineiro tornou relevantes e imperativos. É preciso compreender o povo de Minas e comprometer-se com sua cultura para que o trem aqui não seja só um apito.


*Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG

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